Fui apanhar amoras com o meu pai. Não foi a primeira vez. Eu e a minha irmã temos bem guardado na memória os verões passados na aldeia, os banhos no tanque, as brincadeiras com os primos e as amoras, apanhadas por nós para os nossos pais fazerem o doce para os dias de férias que tínhamos pela frente.Em bom rigor tenho de assumir que quem realmente tinha o trabalho de as apanhar era o meu pai. Nós corríamos, brincávamos e falávamos muito, mas amoras apanhávamos poucas.
Hoje, 30 anos depois, percebi que quase nada mudou! O meu pai continua a arranhar-se todo para apanhar as melhores amoras, continua a ser o melhor companheiro de sempre para qualquer aventura e eu continuo a sentir a mesma alegria por ir com ele.
Há dias quase perfeitos e hoje foi um deles ( porque faltaram os mais novos da história, a minha irmã e primo).
De repente, ali estava eu, como se tivesse 10 anos, com a vida toda pela frente, a tagarelar todo o caminho, a rir com o meu primo, a lembrar com o meu pai as frases dos filmes portugueses que já sabemos de cor, tantas foram as vezes que os vimos, a tomar banho no tanque, a apanhar tomates com a minha mãe, dar-lhe gozo e vê-la sorrir e a dizer, com o mesmo tom de sempre: estás aqui estás a levar uma lamparina.
A vida está diferente. Já não temos 10 anos, já temos as nossas próprias famílias e já não podemos passar os verões dentro do tanque, a brincar ou apanhar amoras sem preocupações, mas as memórias e o que guardamos no coração, lembram-nos todos os dias que a vida é boa, apesar dos nãos e dos tropeços que também traz.
Nestas alturas só podes ser grata por seres tão feliz.
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